A sociedade tem vindo a evoluir com a troca de conhecimento, com o crescente desenvolvimento e evolução, a procura incessante por mais qualificações e competências tornou-se fundamental para acompanhar o mundo em constante mudança. Esta realidade despoletou e tem vindo a despoletar a necessidade de uma maior especialização do mercado de trabalho e consequentemente da aprendizagem.
Assim, a formação surge como a resposta aos desafios da profissionalização, para que os recursos das empresas possam melhorar e consequentemente permitir a que as empresas estejam munidas das ferramentas para dar resposta às necessidades do mercado, tornando-se um fator critico de sucesso para as organizações.
Em Portugal, a formação profissional começa a ser vista como um importante veículo de valorização, quer das pessoas, quer das empresas. A formação contínua eleva os níveis de produtividade e rentabilidade das pessoas, para além de fazer um refresh dos conhecimentos adquiridos. Esta mantém os profissionais atualizados sobre as mais recentes tendências, tecnologias, legislação e exigências práticas para a sua atividade, contribuindo de forma positiva para a capacidade de inovação, adaptação e interação entre o grupo de colaboradores; sendo igualmente importante na prevenção de riscos. Em função dos objetivos e da sua natureza, a formação pode ser distinguida de acordo com os recursos utilizados e com o contexto formativo. Esta pode ser interna, caso se recorra aos recursos formativos fornecidos internamente pela empresa a ministrar a ação, ou externa se esta for administrada por uma entidade independente da empresa. No que diz respeito ao contexto, a formação poderá ser efetuada em sala, no local de trabalho (on the job), no exterior (outdoor), on-line (e-Learning e/ou b-Learning), ou ainda individualmente, onde se acompanha um trabalhador durante um determinado período de tempo (que inclui o mentoring e o coaching) (Costa, P.F., O desafio da Formação Profissional em contexto empresarial: a realidade de uma Academia prestadora de serviços de formação, Tese de Mestrado, 2019, Faculdade de Letras da Universidade do Porto).
Nas formações tradicionais, onde há transmissão do conhecimento e práticas internas entre colaboradores, não há garantias que a mensagem passe ou que seja plenamente assimilada. Formações que utilizem métodos experienciais permitem captar a atenção e o interesse dos formandos de forma mais eficaz. De acordo com o cone de aprendizagem de Edgar Dale (Figura 1), o “aprender, fazendo” (learning by doing) ou a aprendizagem através da ação garantem à partida uma maior eficácia, dado que o grau de envolvimento dos alunos no processo de aprendizagem possibilita a retenção do tema lecionado de maneira mais efetiva, do que de uma forma mais passiva (por meio de leitura, ou por meio de audição de uma palestra, por exemplo) (Dale, E. & Nyland, B., Cone of Learning, Audio-Visual Methods in Teaching (3rd ed.), 1969, Holt, Rinehart, and Winston, quoted in North Carolina State University website).
Figura1: Cone de aprendizagem de Edgar Dale
Os avanços na tecnologia educacional oferecem um número crescente de ferramentas inovadoras de aprendizagem. Em particular, a Realidade Virtual (VR – Virtual Reality) representa uma área promissora com elevado potencial para aperfeiçoar a formação dos profissionais. Uma formação por VR pode fornecer um contexto educacional rico, interativo e envolvente, contribuindo para aumentar o interesse e a motivação dos formandos e apoiar efetivamente a aquisição e transferência de conhecimentos e técnicas, dado esta ser apoiada numa estrutura de aprendizagem experimental por ação (Mantovani, F. et al., Virtual Reality Training for Health-Care Professionals, CyberPsychology & Behavior, 2004, vol.6, no. 4).
Uma experiência de VR, é impressa no cérebro da mesma forma que uma memória real, fazendo o cérebro reagir de imediato (Burdea, G.C., Virtual rehabilitation-benefits and challenges, Methods Inf. Med., 2003, 42, 519-523; Riva, G. et al., Transformation of flow in rehabilitation: the role of advanced communication technologies, Behav. Res. Methods, 2006, 38(2), 237-244).
Os sistemas de realidade virtual são geralmente organizados por apresentações visuais fornecidas aos utilizadores, onde os estímulos visuais são agrupados pelo nível de imersão. Em resumo, as apresentações bidimensionais são consideradas não imersivas; enquanto as apresentações tridimensionais que utilizam projeções ou displays estereoscópicos com uma perspetiva visual são classificadas como semi-imersivas, já que os sistemas totalmente imersivos permitem mudar a perspetiva visual apenas com o movimento da cabeça (Adamovich, S.V. et al., Sensorimotor training in virtual reality: A review, NeuroRehabilitation, 2009, 25, 29-44).
Um sistema de VR é essencialmente uma simulação interativa que pode representar um sistema real ou abstrato, sendo a simulação baseada num modelo representativo computorizado, fornecendo dados apropriados para visualização ou representação do sistema, como se pode ver na Figura 2 (Nasios, K. Improving chemical plant safety training using virtual reality, PhD Thesis, 2002, University of Nottingham).
Figura 2:Modelo genérico de um ambiente de realidade virtual
A escolha do dispositivo de interface entre utilizador e computador depende assim do nível de imersão e da resolução de imagem necessária. Para uma experiência de VR onde o utilizador possa estar totalmente imerso e sem distrações durante todo o processo, é necessário simular-se a sensação de realidade, onde a interface reage às indicações e comandos do utilizador, por forma a este poder vivenciar as situações estipuladas.
O rápido desenvolvimento da tecnologia e o enorme potencial dos sistemas de realidade virtual numa ampla variedade de áreas, levou muitas empresas a investir no incremento do desempenho de sistemas de realidade virtual em computadores, com foco maioritário no mercado dos jogos. No entanto, com os custos de hardware a diminuírem e o desempenho dos computadores pessoais a atingirem maiores níveis de qualidade, há a possibilidade de reduzir continuamente os custos de desenvolvimento de software. Nesta conjuntura, o argumento de que a VR é uma tecnologia cara deixa de ser válida, o que abre portas à formação em massa utilizando a VR à medida que os custos unitários caem drasticamente (Wilson, J.R. et al., Virtual Reality for industrial Applications: Opportunities and Limitations, Nottingham University Press,1996, United Kingdom).
Atualmente, na área da saúde, a formação por VR já é uma realidade, dado os procedimentos médicos estarem em constante mudança e atualização. Neste âmbito, os aplicativos de VR diferem muito quanto à sofisticação tecnológica e multimédia, encontrando-se desde aplicativos tele-cirúrgicos a simulações interativas do corpo e do cérebro humano, entre outras aplicações (Mantovani, F. et al., Virtual Reality Training for Health-Care Professionals, CyberPsychology & Behavior, 2004, vol.6, no. 4).
Atualmente é mais comum a utilização da VR em contexto de formação, em indústrias como a aeronáutica ou espacial ou em certas escolas de condução que utilizam simuladores de realidade virtual para a aprendizagem, porém trata-se de uma tecnologia com potencial de aplicabilidade em muitas outras indústrias. Em comparação com os métodos tradicionais, a VR pode trazer vantagens a nível de (Nasios, K. Improving chemical plant safety training using virtual reality, PhD Thesis, 2002, University of Nottingham):
A RV, pela introdução da experiência como elemento central de aprendizagem, traz inúmeros avanços face às metodologias tradicionalmente utilizadas, como por exemplo:
Possibilita criar experiências de formação individualizadas e na primeira pessoa, nas quais é possível simular as situações reais com que o formando terá de lidar no dia a dia profissional. A tecnologia de realidade virtual apresenta características como um ambiente imersivo (que limita distrações, feedback imediato (que promove uma maior assimilação de conhecimentos), report online (que permite acompanhar a evolução do formando), entre outras.
Em suma, a formação é vista como uma ferramenta fulcral para a diferenciação, sucesso, inovação e competitividade das empresas. Para a formação ser eficaz, esta tem de ser centrada na experiência prática, de modo a proporcionar um ambiente favorável à aprendizagem e assim aumentar os níveis de confiança, motivação e retenção de conhecimentos. Neste contexto a realidade virtual é uma tecnologia com um potencial de presente e de futuro, promovendo uma revolução na área da formação, abrindo um novo leque de possibilidades.