Anteriormente, introduzimos as principais fases que constituem um processo típico de Fusões ou Aquisições de empresas (do inglês Mergers & Acquisitions, ou abreviando M&A). Seja na perspetiva do lado vendedor (isto é, da equipa acionista/de sócios que pretende vender uma participação) ou do lado comprador, todo o processo culmina naturalmente na definição de um valor do negócio.
À semelhança do que se sucede num processo típico de leilão, onde o preço da transação é determinado pelo confronto entre o lado comprador e o lado vendedor, também um processo de fusão ou aquisição apenas terá sucesso caso estas duas partes atinjam eventualmente um consenso.
Contudo, dada a complexidade que geralmente envolve cada negócio e processo de M&A, é frequente encontrar numa fase inicial uma grande disparidade entre as expetativas da parte vendedora e compradora.
Por um lado, os sócios/acionistas da empresa têm incentivos em lutar por um valor superior, de forma a rentabilizar a sua participação que em muitas situações representa grande parte do seu património pessoal.
Por outro lado, qualquer potencial comprador/investidor deseja maximizar o seu retorno do investimento minimizando também os riscos incorridos, tendo por isso incentivo a negociar por um preço suficientemente baixo que permita também em parte compensar todas as incertezas e assimetrias de informação às quais se estará a expor.
Com isto torna-se notória a importância da elaboração de um Plano de Negócios (Business Plan) que permita clarificar grande parte das questões quanto ao valor do negócio em questão.
É neste contexto de incerteza e de expectativas divergentes que a definição de um Plano de Negócios (ou Business Plan) assume uma importância especial.
Um Plano de Negócios, de forma sucinta, resume-se numa projeção financeira da evolução de um negócio, envolvendo geralmente a definição de vários KPI’s (Key Performance Indicators) que a equipa ambiciona atingir em cada ano, por um horizonte temporal geralmente não inferior a 5 anos.
Num processo de M&A, o desafio prende-se sobretudo com a diferença entre dois conceitos geralmente assumidos como sinónimos – preço e valor. Contudo, estes são geralmente diferentes e podem distanciar-se significativamente um do outro, mesmo que referentes ao mesmo ativo.
A diferença entre estes conceitos será explorada mais detalhadamente numa secção oportuna futura, contudo em termos gerais o valor de um ativo (como uma participação social/acionista numa empresa, que será aquele mais adequado para este contexto) é geralmente determinado com base no retorno esperado para o seu proprietário, por regra definido através dos fluxos de caixa gerados por tal ativo. Por sua vez, o preço de um ativo corresponde unicamente ao montante pelo qual este é transacionado, sendo para tal apenas necessário que haja um comprador e um vendedor que alcancem um entendimento mútuo.
Percebe-se aqui facilmente que o valor e o preço de um ativo podem ser bastantes díspares, desde logo quando consideramos possíveis assimetrias de informação que colocam uma das partes em desvantagem.
A título de exemplo, uma empresa vendedora poderá afirmar-se como tendo um balanço saudável e uma capacidade atrativa de geração de resultados, mas obter tais feitos apenas através de manipulação contabilística, o que prejudicará qualquer comprador caso esta informação não seja do seu conhecimento.
A elaboração de um Plano de Negócio surge então como uma forma de reduzir esta assimetria entre o lado comprador e vendedor numa transação, devendo este ser desenvolvido num momento inicial pela equipa de gestão, preferencialmente com o apoio de um assessor financeiro experiente.
Desde logo, a elaboração de um Plano de Negócios é um passo essencial para a profissionalização da gestão de qualquer empresa. Quer pretenda iniciar um processo de M&A ou simplesmente melhorar a gestão da sua empresa, um Plano de Negócios corretamente elaborado envolve uma reflexão e definição clara de objetivos no curto, médio e longo prazos, permitindo não só identificar eventuais áreas em necessidade de restruturação e investimento/desinvestimento, mas também auxiliar a equipa de gestão no desenvolvimento das suas funções, nomeadamente na elaboração dos orçamentos anuais que deste modo poderão ser atualizados contrastando a evolução real da empresa versus aquela previamente projetada.
Mas a existência de um Plano de Negócios devidamente detalhado e consistente no âmbito de um processo de M&A não é apenas útil, mas muitas vezes obrigatório. Primeiramente, é importante que o lado vendedor saiba gerir as suas expectativas de forma realista, definindo o preço a pedir com base na capacidade de geração de rendimento e evolução prevista do negócio. Tal só será possível após uma devida análise e reflexão sobre o mesmo, definindo targets ambiciosos contudo realistas, e construindo uma história que fundamente a capacidade da empresa em atingir tais objetivos.
Em segundo lugar, um Plano de Negócios é uma importante fonte de informação para qualquer potencial investidor conseguir perceber, desde logo, se poderá obter o retorno exigido. Apesar de a informação financeira histórica ser importante para perceber a história e evolução do negócio, um investidor tem igual ou até maior interesse em conhecer como este evoluirá no futuro e como é que a equipa de gestão irá atingir tais metas.
Adicionalmente, a existência de um Plano de Negócios pode mesmo ser exigida pelo eventual comprador e até ser utilizado na definição de uma proposta. Verificando-se o retorno que o investidor exige, importa ainda avaliar a consistência de tal plano para garantir que os objetivos propostos são realistas. E, para tal, os investidores irão escrutinar ao detalhe o Plano de Negócios apresentado pela empresa, e possivelmente até condicionando parte do pagamento ao cumprimento de determinados objetivos que poderão passar desde alguns KPI’s ou até mesmo estar ligado ao volume de negócios ou margem de lucro projetada.
Em suma, a elaboração de um Plano de Negócios envolve um trabalho de reflexão crítica importante que deve ser realizado pela equipa de gestão, e é imprescindível tanto para otimizar a tomada de decisão como para servir de suporte na eventual estimação do valor de negócio e sucesso de um processo de fusão ou aquisição.
Capacitando quer o lado vendedor quer o lado comprador de um Plano de Negócios único e robusto, a probabilidade de estes alcançarem um acordo que acrescente valor para ambas as partes é significativamente superior, tornando também o próprio processo mais ágil e agradável.
Tendo agora um melhor enquadramento sobre a importância de um Plano de Negócio num processo negocial de M&A, nos próximos artigos abordaremos alguns conceitos adicionais e aspetos a ter em consideração no momento da sua elaboração.
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