E POR FALAR EM BETS

E por falar em bets

Ricardo Rodil
17/12/2024
E POR FALAR EM BETS
Ponto de vista

Podemos analisar o impacto da ludopatia, assim chamado o vício em jogos quando já se tornou uma doença, sob variados aspectos.

Um dos aspectos é o macroeconômico. Basicamente, sob este ponto de vista, a ludopatia promove transferências de riqueza sem a criação de um produto ou serviço. Neste sentido, é muito diferente de ir ao cinema ou a um parque de diversões, atividades que movimentam diversos atores econômicos. Ergo, a moeda em circulação acaba aumentando, o que pode aumentar a procura, sem um aumento correspondente nos bens e serviços disponíveis na sociedade. Numa equação simplista, isto geraria pressões inflacionárias.

Mas vamos deixar de lado os aspectos macroeconômicos, pois os efeitos mais dramáticos se produzem na microeconomia, ou seja, na conduta de uma série de agentes econômicos. Vamos nos concentrar no indivíduo, agente econômico básico, e na empresa onde esse indivíduo trabalha.

Podemos analisar o impacto da ludopatia, assim chamado o vício em jogos quando já se tornou uma doença, sob variados aspectos.

Um dos aspectos é o macroeconômico. Basicamente, sob este ponto de vista, a ludopatia promove transferências de riqueza sem a criação de um produto ou serviço. Neste sentido, é muito diferente de ir ao cinema ou a um parque de diversões, atividades que movimentam diversos atores econômicos. Ergo, a moeda em circulação acaba aumentando, o que pode aumentar a procura, sem um aumento correspondente nos bens e serviços disponíveis na sociedade. Numa equação simplista, isto geraria pressões inflacionárias.

Mas vamos deixar de lado os aspectos macroeconômicos, pois os efeitos mais dramáticos se produzem na microeconomia, ou seja, na conduta de uma série de agentes econômicos. Vamos nos concentrar no indivíduo, agente econômico básico, e na empresa onde esse indivíduo trabalha.

Pensando no caso de uma pessoa empregada em uma empresa qualquer, as consequências são variadas, como são variados os efeitos negativos que podem recair tanto sobre o funcionário quanto sobre o empregador e sobre seus colegas de emprego. Os riscos mais conhecidos são: produtividade afetada, tendência a faltas e afastamentos, deterioração do "clima" dentro da empresa afetando o resto dos funcionários, saúde mental e física afetadas e, o que considero mais importante sob o ponto de vista da empresa, risco de cometimento de fraudes.

Ao tocar no tema "fraudes", devemos levar em conta que na fraude é comum encontrar 3 elementos: (i) pressão, ou seja, as circunstâncias pessoais do fraudador que o impelem a cometer a fraude; (ii) oportunidade, as características do local e trabalho que possibilitam o cometimento da fraude; e (iii) racionalização, aspecto mais pessoal, que a necessidade que o fraudador tem de "explicar" e justificar a fraude perante sua consciência.

Os aspectos (i) e (iii) acima pertencem ao âmbito pessoal da pessoa que comete a fraude. Já o aspecto (ii) diz respeito às condições de controles internos vigentes na entidade onde o fraudador trabalha. E assim chegamos ao ponto onde os interesses do fraudador e da entidade na qual trabalha se encontram e colidem. Consequentemente, as entidades em geral devem preocupar-se com a criação e manutenção de condições internas à entidade que coíbam a fraude ou que contribuam para que, uma vez cometida, sinais de alerta sejam acionados oportunamente para que a entidade tome as medidas cabíveis.

Além disso, é mister que as entidades e empresas se comprometam com ações destinadas a prevenir as fraudes. No âmbito organizacional, o desenho, implantação e operação de um sistema de controles internos eficaz e focado na diminuição das oportunidades de fraude é ponto primordial. Adicionalmente, a entidade pode promover eventos e programas de educação e de conscientização e tentar manter um ambiente de trabalho que valorize o bem-estar dos funcionários, o que compreende tanto os aspectos financeiros quanto emocionais.

No âmbito dos cuidados pessoais com os funcionários que evidenciem dificuldades de administrar eficientemente suas finanças pessoais (e, portanto, familiares), a área de Recursos Humanos deve ter as "antenas" bem calibradas de modo a perceber este tipo de problemas o mais cedo possível, de modo a providenciar apoio psicológico que ofereça sessões de aconselhamento.

É importantíssimo, neste último caso, que haja um compromisso firme da Administração e do(s) profissional(is) contratado(s) no sentido de manter a confidencialidade dos temas tratados nessas sessões.